O que é a microbiota e como ela pode afetar o diabetes?

pessoa sentindo a microbiota intestinal

Conteúdos

O diabetes tipo 2 (DM2) é uma doença metabólica complexa que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. Pesquisas recentes mostraram que a microbiota intestinal, composta por trilhões de microrganismos que vivem no intestino, desempenha um papel no desenvolvimento e progressão do DM2.

Este post explora como essas interações microbianas afetam a saúde e o que podemos fazer para melhorar essa situação.

Diabetes e Microbiota edited

O que é microbiota intestinal e qual é seu papel?

A microbiota intestinal é uma comunidade de microrganismos, como bactérias, que vivem no nosso sistema digestivo. Eles ajudam a digerir alimentos, produzem vitaminas, neurotransmissores e fortalecem o sistema imunológico.

No entanto, em pessoas com diabetes tipo 2, a composição dessa microbiota é alterada, afetando negativamente a saúde.

As principais descobertas sobre a microbiota

1. Mudanças metabólicas no DM2

Pesquisadores utilizaram modelos computacionais para estudar as interações metabólicas na microbiota intestinal de pacientes com DM2. Descobriram que há uma redução na produção de ácidos graxos de cadeia curta (SCFAs), como o butirato, que são essenciais para a saúde intestinal e o equilíbrio metabólico.

2. Redução na produção de butirato

O butirato, produzido por bactérias intestinais como a Faecalibacterium prausnitzii, é crucial para a saúde intestinal e a regulação do metabolismo da glicose. Em pacientes com DM2, a produção de butirato é significativamente reduzida, o que está associado ao aumento da resistência à insulina e problemas no metabolismo da glicose. Essa descoberta sugere que aumentar os níveis de butirato pode ser uma estratégia eficaz no tratamento do DM2.

3. Metabolismo de aminoácidos alterado

Os aminoácidos são blocos de construção das proteínas e desempenham funções vitais no corpo. O estudo revelou alterações significativas no metabolismo dos aminoácidos de cadeia ramificada (BCAAs) e aromáticos (AAAs) em pacientes com DM2. Essas mudanças podem servir como indicadores para o diagnóstico e tratamento do DM2.

4. Impacto no metabolismo de vitaminas

A vitamina B5, ou pantotenato, também foi afetada segundo esse estudo. A produção reduzida dessa vitamina impacta a síntese de coenzima A (CoA), essencial para o metabolismo dos carboidratos. Isso agrava ainda mais a desregulação metabólica em pacientes com DM2.

Implicações para tratamentos terapêuticos

As descobertas deste estudo destacam a importância de intervenções dietéticas e microbianas personalizadas para restaurar o equilíbrio metabólico em pacientes com DM2. Ao direcionar comunidades microbianas específicas e suas vias metabólicas, pode-se aumentar a produção de metabólitos benéficos, como o butirato, e regular o metabolismo de aminoácidos e vitaminas.

1. Estratégias prebióticas, probióticas e dietéticas

Incluir probióticos que estimulam o crescimento de bactérias produtoras de butirato, como a Faecalibacterium prausnitzii, podem ser estratégias eficazes. Além disso, mudanças na dieta que forneça “alimento” para uma microbiota intestinal saudável, como o consumo de alimentos ricos em fibras, cereais integrais, maçã, banana, aspargo e etc, podem potencializar esses efeitos benéficos.

2. Direções para pesquisas futuras

Pesquisas futuras devem focar em entender melhor as interações complexas dentro da microbiota intestinal e seu impacto no metabolismo humano. Integrar dados de diferentes fontes e usar modelos computacionais avançados pode fornecer insights mais profundos sobre como a reprogramação metabólica ocorre no DM2 e ajudar a desenvolver intervenções terapêuticas mais eficazes.

Conclusão

O estudo de Beura et al. (2024) publicado na Scientific Reports oferece insights valiosos sobre as interações metabólicas na microbiota intestinal de pacientes com DM2. Compreender essas interações é crucial para desenvolver estratégias terapêuticas eficazes para gerenciar o DM2.

Ao focar em intervenções dietéticas e microbianas personalizadas, podemos restaurar o equilíbrio metabólico e melhorar a saúde dos pacientes com DM2. Compreender e manipular as interações metabólicas da microbiota intestinal pode abrir novos caminhos para mitigar os impactos do DM2 e melhorar a qualidade de vida dos indivíduos afetados.

Lembrando que o DM2 é uma doença multifatorial, olhar apenas os fatores dietéticos e a suplementação, podem não ser suficientes para melhorar a qualidade de vida e gerir os sintomas da DM2.

Referências:

  • Beura, S., Kundu, P., Das, A. K., & Ghosh, A. (2024). Genome-scale community modelling elucidates the metabolic interaction in Indian type-2 diabetic gut microbiota. Scientific Reports, 14(17259). https://doi.org/10.1038/s41598-024-63718-0
  • Rinninella, E., et al. (2019). What is the healthy gut microbiota composition? A changing ecosystem across age, environment, diet, and diseases. Microorganisms, 7(14).
  • Fan, Y., & Pedersen, O. (2021). Gut microbiota in human metabolic health and disease. Nature Reviews Microbiology, 19(55).
  • Mazhar, M., Zhu, Y., & Qin, L. (2023). The interplay of dietary fibers and intestinal microbiota affects type 2 diabetes by generating short-chain fatty acids. Foods, 12(1023).

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