Após perder a mãe em uma luta contra o câncer, a nutricionista Luna Azevedo criou uma clínica (Nutrindo Ideais) para auxiliar pacientes a utilizarem alimentos como forma de prevenir doenças. Especializada em nutrição oncológica, comportamental e esportiva, além de adotar a linha do veganismo, Luna foi pioneira no uso de exames genéticos para prescrever dietas personalizadas para cada paciente.
Como surgiu seu interesse pela nutrição?
Meu pai é engenheiro e minha mãe é advogada e publicitária. Não tive nenhum estímulo ou incentivo. O que tive de referência em casa foram os bons hábitos alimentares. Partiu de mim o interesse pela área da Nutrição. Foi um choque para a minha família, mas eu sempre segui minha intuição. Sou totalmente realizada com o que faço.
Você acredita que os alimentos são, de certa forma, medicamentos? Como?
Já dizia Hipócrates: “Que seu remédio seja seu alimento, e que seu alimento seja seu remédio“. A nutrição cura tudo. O profissional nutricionista não pode usar a palavra “cura”. Usamos a palavra prevenção. Mas sabemos a força do alimento na transformação celular, mudanças genéticas e prevenção de doenças.
Qual a principal importância da nutrição para a saúde?
A nutrição é a base da vida. Sem oxigênio e alimento, não sobrevivemos. Comer é um dos pilares básicos da sobrevivência na Terra. Sem a nutrição não existe vida!
Você tem alguma história curiosa pessoal em relação à nutrição?
Tenho um caso muito forte com a faculdade e meu momento de vida. Foi exatamente na semana que descobri que havia passado para todas as faculdades federais do Rio de Janeiro que também tive a notícia do câncer de mama da minha mãe.
Eu passei a faculdade inteira vivendo intensamente a doença da minha mãe e estudando para ajudá-la. Ao final, não tive minha mãe na minha formatura. Mas levo ela em tudo o que faço. A minha clínica Nutrindo Ideais foi criada como uma busca por ressignificar a saúde e a vida para mim e para as pessoas.
A Nutrindo é uma mãe na minha vida e na vida de todo mundo que vai até lá e busca a cura, o abraço, o amor, a vida. Ressignifiquei a dor em amor ao próximo.
Você segue alguma “corrente” específica nessa área? Qual? Por quê?
Trabalho com nutrição funcional na sua base, atuando na nutrição oncológica, esportiva, veganismo, nutrição materno-Infantil, comportamental e transtornos alimentares. Eu vivo a nutrição intensamente para todas as fases da vida do meu paciente.
De que forma você acredita que a nutrição pode influenciar na longevidade?
Cuidar do que consumimos é cuidar das nossas células. Alimentar-se com comida da terra, viva e orgânica é um ato de prosperar saúde naturalmente.
O tema da sua participação no Rituaali será as “blue zones”, locais em que as pessoas vivem mais e com mais qualidade de vida no mundo. Como é a sua relação com esse tema?
É o trabalho que faço todos os dias com os meus pacientes. Buscar a “Blue Zone” para as nossas vidas: alimentos da terra, sazonais, resgatar o hábito de cozinhar, de comer em família, e trazer para a comida um significado social, cultural e emocional saudável.
O que os alimentos consumidos nesses locais têm em comum?
Alimentos limpos de agrotóxicos, alimentos da terra, cozinha natural. Além disso, nas Blue Zones, as pessoas tendem a não consumirem alimentos em excesso à noite. Isso é uma grande sabedoria pois, por causa do tempo que o alimento leva para ser digerido e a quantidade de energia necessária para tal função, sabemos que uma refeição pesada de noite atrapalha muito o sono. Todos os grupos do estudo consumiam ótimas quantidades de vegetais. O preparo do alimento também é feito de forma tradicional, sem nenhum industrializado.
Que desdobramentos desse tema você vai abordar?
Falaremos sobre os nutrientes comuns das Blue zones e como trazermos para o nosso dia a dia. Sobre os pilares da vida, sobre comida “energética” e vital. Ressignificaremos o ato de comer.
Existe algum alimento que você acredita que não pode faltar no seu cardápio? Qual e por quê?
Couve e brócolis – fontes de cálcio, ferro, antioxidantes, ácido fólico e componentes reparadores do DNA.
E quais os 5 alimentos que você acha que não podem faltar no prato de qualquer pessoa?
Frutas ricas em vitamina C (laranja) Vegetais verde escuros (couve e brócolis) Leguminosas (feijão) Cereais (arroz integral) Castanhas ricas em ômega 3 e gorduras boas (azeite)
Qual a sua receita favorita? Pode nos passar?
Overnight oats. Leva frutas picadas, aveia ou chia hidratada com leite de coco + mix de castanhas trituradas + creme de amendoim ou iogurte de coco vegano dividido em camadas.
Muitas pessoas alegam falta de tempo para alimentar-se saudavelmente. De que forma é possível superar esse obstáculo para ter uma alimentação equilibrada no dia a dia?
Organizar os alimentos em potes já cortados. O congelamento muitas vezes faz com que ganhemos tempo de preparo, mas perde-se a vitalidade e “fogo” do alimento. O ser humano precisa se reconectar novamente com o alimento, isso é um fato. E só conseguiremos isso quando voltarmos a dar importância para a nossa saúde de maneira integral e com uma visão mais preventiva. Mas ter sempre perto de si frutas in natura e castanhas para emergência são alguns exemplos práticos, sustentáveis e saudáveis.
Que dicas você pode dar para quem quer começar a mudar os hábitos?
Mude sua perspectiva sobre a vida. Redescubra as suas prioridades e ressignifique o seu propósito. Não estamos aqui para deixar bens materiais. Estamos aqui para trocar conhecimento e viver em sintonia com todos! Então durma bem, se alimente bem, cuide da sua saúde e organize a sua alimentação.
Tenha momentos sociais saudáveis também. O papel do profissional nutricionista é exatamente esse: orientar as pessoas para que organizem a alimentação dentro das suas necessidades, ajudando-o a mudar hábitos e “crenças” alimentares.