Entenda sobre os riscos da solidão para nossa saúde

pessoa com solidão crônica sentado na cadeira do parque

Conteúdos

Nos últimos anos, a ciência tem aprofundado seus estudos sobre a solidão e seus impactos na saúde humana. A solidão crônica, definida como uma sensação persistente de desconexão social, tem sido associada a diversos problemas de saúde, incluindo doenças cardiovasculares.

Um estudo recente publicado na eClinicalMedicine em 2024 trouxe à luz a ligação entre a solidão crônica e o risco aumentado de Acidente Vascular Cerebral (AVC), ou derrame, em adultos de meia-idade e idosos.

Este post explora essas descobertas e discute como a solidão pode ser um fator de risco significativo para o derrame, além de apresentar estratégias para mitigar esse risco.

homem sentado na praça pensando na solidão crônica

Estudos sobre os riscos da solidão

O estudo conduzido por Soh et al. (2024) utilizou dados do Health and Retirement Study (HRS) para analisar a associação entre solidão e incidência de derrame ao longo de um período de 10 a 12 anos. A solidão foi medida usando a escala de solidão revisada da UCLA, com pontuações variando de 3 a 9. Os participantes foram categorizados em quatro padrões de solidão ao longo do tempo: consistentemente baixa, remissão, início recente e consistentemente alta.

Os resultados mostraram que indivíduos com pontuações de solidão mais altas no início do estudo tinham um risco significativamente maior de AVC. Aqueles que apresentaram solidão consistentemente alta ao longo do tempo tiveram um risco 56% maior de desenvolver AVC comparado aos que mantiveram baixos níveis de solidão. Essas associações permaneceram significativas mesmo após ajuste para sintomas depressivos e isolamento social.

Existe relação entre a solidão e o AVC?

A solidão pode afetar a saúde cardiovascular por meio de diversos mecanismos. Três principais categorias de mecanismos que são frequentemente discutidas na literatura são:

  1. Fisiológicos: A solidão tem sido associada a respostas fisiológicas adversas, como aumento da pressão arterial, atividade elevada do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal e diminuição da imunidade. Esses fatores podem contribuir para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, incluindo o AVC.
  2. Comportamentais: Pessoas solitárias podem adotar comportamentos menos saudáveis, como má adesão à medicação, tabagismo, consumo excessivo de álcool e qualidade de sono inferior. Tais comportamentos são conhecidos como fatores de risco para AVC.
  3. Psicossociais: A solidão está fortemente correlacionada com sintomas depressivos, ansiedade e retraimento social. Embora o estudo de Soh et al. tenha ajustado para esses fatores, a solidão crônica ainda se mostrou um preditor significativo de AVC, sugerindo que mecanismos além dos sintomas depressivos podem estar em jogo.

Quais são os efeitos da solidão na saúde mental e física?

A solidão crônica não apenas aumenta o risco de AVC, mas também afeta a saúde mental e física de maneira mais ampla. Estudos têm mostrado que a solidão pode levar a um aumento nos níveis de estresse, ansiedade e depressão. Esses estados emocionais podem desencadear respostas inflamatórias no corpo, aumentando o risco de doenças crônicas como diabetes e hipertensão, que são fatores de risco conhecidos para AVC.

Além disso, a solidão pode afetar a qualidade do sono, levando a padrões de sono interrompidos ou insuficientes. O sono inadequado é outro fator que pode contribuir para o aumento do risco de AVC, pois está associado a uma série de problemas de saúde, incluindo pressão alta, obesidade e diabetes.

Como podemos lidar com a solidão naturalmente?

Dado o impacto significativo da solidão na saúde, é crucial que profissionais de saúde identifiquem e intervenham em casos de solidão crônica. Programas de intervenção que visam reduzir a solidão podem incluir:

  • Grupos de apoio social: Facilitar a participação em grupos de apoio pode ajudar a diminuir a sensação de isolamento. Esses grupos podem ser baseados em interesses comuns, como hobbies ou causas sociais, proporcionando um senso de pertencimento e comunidade.
  • Tecnologias de conexão: Promover o uso de tecnologias como videochamadas para manter conexões sociais, especialmente para aqueles com mobilidade reduzida. Ferramentas digitais podem ser um meio eficaz de manter contato regular com familiares e amigos.
  • Atividades comunitárias: Incentivar a participação em atividades comunitárias pode promover um senso de pertencimento e reduzir a solidão. Voluntariado, participação em eventos locais e engajamento em atividades recreativas são exemplos de como isso pode ser implementado.
  • Intervenções psicológicas: Terapias como a terapia cognitivo-comportamental (TCC) podem ser eficazes para ajudar indivíduos a desenvolver habilidades sociais e lidar com sentimentos de solidão. A TCC pode ajudar a reestruturar pensamentos negativos e promover comportamentos mais saudáveis e conectados.

Qual é o papel do governo na redução da solidão?

As políticas públicas também desempenham um papel crucial na mitigação da solidão. Governos e organizações de saúde podem implementar programas e políticas que promovam a interação social e combatam a solidão. Isso pode incluir:

  • Infraestrutura comunitária: Desenvolvimento de espaços públicos que incentivem a socialização, como parques, centros comunitários e áreas de lazer.
  • Campanhas de conscientização: Campanhas de conscientização sobre os riscos da solidão e os benefícios das conexões sociais podem ajudar a educar o público e reduzir o estigma associado à solidão.
  • Apoio a idosos: Programas específicos para idosos, como visitas domiciliares e serviços de apoio, podem ajudar a combater a solidão nessa população vulnerável.

Conclusão

A solidão crônica é um fator de risco significativo para AVC, independente de outros fatores de risco conhecidos como depressão e isolamento social. Abordar a solidão através de intervenções sociais e comunitárias pode ser uma estratégia eficaz para a prevenção de AVC, especialmente em populações idosas.

À medida que a sociedade envelhece, a identificação e mitigação da solidão podem se tornar componentes cruciais de estratégias de saúde pública para reduzir a carga de AVC e outras doenças cardiovasculares.

Referências:

  1. Soh Y, Kawachi I, Kubzansky LD, Berkman LF, Tiemeier H. Chronic loneliness and the risk of incident stroke in middle and late adulthood: a longitudinal cohort study of U.S. older adults. eClinicalMedicine. 2024; 102639. https://doi.org/10.1016/j.eclinm.2024.102639.
  2. Hawkley LC, Cacioppo JT. Loneliness and pathways to disease. Brain Behav Immun. 2003;17(1):98-105. https://doi.org/10.1016/S0889-1591(02)00073-9.
  3. Valtorta NK, Kanaan M, Gilbody S, Ronzi S, Hanratty B. Loneliness and social isolation as risk factors for coronary heart disease and stroke: systematic review and meta-analysis of longitudinal observational studies. Heart. 2016;102(13):1009-1016. https://doi.org/10.1136/heartjnl-2015-308790.

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