A dieta carnívora é uma das tendências mais extremas entre as dietas com baixo teor de carboidratos, focando quase que exclusivamente no consumo de produtos de origem animal. Popularizada por influenciadores como Mikhaila Peterson e Shawn Baker, a dieta sugere que nossos ancestrais se alimentavam principalmente de carne e que isso seria o ideal para nossa saúde. Contudo, o que a ciência diz sobre a dieta carnívora? Vamos explorar as evidências.
Como a dieta carnívora funciona
A dieta carnívora consiste basicamente em eliminar todos os alimentos de origem vegetal, centrando-se exclusivamente no consumo de carne, ovos e laticínios. Algumas variações permitem a inclusão de frutas, mas a base da dieta continua sendo animal. Defensores afirmam que a dieta pode curar uma variedade de doenças, como depressão, doenças autoimunes e problemas metabólicos. Contudo, a ciência parece contar uma história diferente.
A falta de evidências científicas
Amber O’Hearn, uma defensora da dieta carnívora, publicou o primeiro artigo científico com “dieta carnívora” no título apenas em 2020, mostrando como a pesquisa sobre o tema é limitada. Mesmo O’Hearn, que dedica sua carreira a estudar a dieta, admite que faltam evidências científicas robustas que sustentem seus benefícios.
Sem estudos de longo prazo que avaliem a dieta carnívora, é difícil determinar seus reais efeitos na saúde humana. A maioria das alegações é baseada em evidências anedóticas, histórias de sucesso individuais que, embora interessantes, não substituem a rigorosa pesquisa científica. A pesquisa de Lennerz e seus colegas, publicada em 2021, destaca algumas dessas histórias, mas enfrenta limitações graves, como o viés de seleção, visto que os participantes já eram adeptos da dieta .
Cientistas destacam os benefícios das dietas à base de plantas
Enquanto faltam evidências sobre a dieta carnívora, há uma vasta literatura científica apoiando dietas ricas em vegetais. Estudos observacionais em larga escala mostram consistentemente que dietas predominantemente à base de plantas estão associadas a uma menor incidência e mortalidade por doenças crônicas, incluindo vários tipos de câncer . Esses estudos também mostram que dietas com menos produtos de origem animal podem melhorar a saúde cardiovascular.
Por exemplo, estudos de intervenção como os de Ornish e Esselstyn demonstram que a substituição de alimentos de origem animal por vegetais integrais pode não apenas prevenir, mas reverter doenças cardíacas. Em termos moleculares, a ingestão de carne está ligada ao aumento do estresse oxidativo e inflamação, fatores que contribuem para o desenvolvimento de doenças crônicas, incluindo doenças cardíacas.
A biologia por trás do consumo de carne
Estudos laboratoriais em animais oferecem ainda mais suporte para a ideia de que dietas ricas em carne podem ser prejudiciais. Em modelos de roedores, a proteína animal mostrou aumentar a ligação de metabólitos carcinogênicos e promover a formação de moléculas reativas de oxigênio, que estão diretamente associadas ao desenvolvimento de câncer.
Além disso, dietas à base de plantas demonstram benefícios em uma série de outras condições, como doença renal, diabetes tipo 2, obesidade, alzheimer e osteoporose. Esses estudos mostram que uma dieta baseada em plantas não só protege contra doenças, mas também tem um menor impacto ambiental, o que é um ponto a ser considerado ao planejar uma dieta ideal.
A comparação evolutiva
Os humanos são realmente carnívoros por natureza? De acordo com o editor-chefe do American Journal of Cardiology, a resposta é não. Em um artigo de 1990, ele afirmou que os seres humanos não são carnívoros naturais, e que quando comemos carne, ela nos prejudica. A carne não foi projetada para o consumo humano, e nosso corpo reage de forma diferente dos verdadeiros carnívoros, como cães e gatos.
A diferença biológica entre carnívoros e herbívoros é clara quando analisamos a aterosclerose, uma condição comum em humanos causada pelo acúmulo de placas nas artérias. Carnívoros não desenvolvem essa condição com o consumo de carne, enquanto herbívoros (e humanos) sim. Isso indica que nosso corpo não está otimizado para uma dieta exclusivamente à base de carne.
Por que a dieta carnívora é tão popular?
Se a dieta carnívora carece de evidências científicas robustas e há tanta ciência apoiando dietas à base de plantas, por que ela ganhou tanta popularidade? Parte disso pode ser atribuída à atração por soluções simples e radicais. Em uma época em que muitos lutam com problemas de saúde crônicos, a promessa de uma cura rápida e milagrosa pode parecer irresistível. A dieta carnívora também se beneficia da disseminação em redes sociais, onde histórias de sucesso individuais ganham muita visibilidade, apesar da falta de suporte científico.
Devemos adotar a dieta carnívora para nossa vida?
Embora os defensores da dieta carnívora afirmem que ela traz benefícios incríveis para a saúde, a falta de evidências científicas e a vasta quantidade de pesquisas que apoiam dietas ricas em vegetais tornam difícil recomendar a dieta carnívora como uma escolha saudável. As dietas à base de plantas, comprovadamente, oferecem proteção contra doenças crônicas, melhoram a saúde cardiovascular e contribuem para um ambiente mais sustentável. A decisão de seguir a dieta carnívora deve ser cuidadosamente ponderada, considerando os riscos potenciais e a falta de evidências de longo prazo.
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